"O dia começou extremamente melancólico, triste, angustioso, saudoso, o que quer que se queira chamar àquilo que me provocou uma choradeira das 3 às 8h da manhã, depois de uma directa, noite em que não consegui pregar olho um minuto que fosse, intercalada por momentos de calma. Nunca pensei que me viesse a custar assim tanto partir de perto daqueles que mais amo para o total desconhecido, sempre me proclamei independente (e sou-o)… mas a verdade é que eu digo a mim mesma que sou desligada, mas crio mais “apego” às pessoas do que aquilo que pensava…
O drama – O DRAMA!!! – que foi no aeroporto…era tanta a choradeira, que até dava para rir! Especialmente naquele momento mesmo à filme em que eu a chorar me ia a despedir em direcção à porta de embarque, a mãozinha a acenar e o olhar de “vou ter tantas saudades” – só faltava o lencinho branco, a sério – e chego lá e o homem diz-me que é na outra porta do embarque, o que me fez voltar atrás e REPETIR a cena da despedida dramática. Lol. Resumindo e concluindo, parecia que ía para a guerra…
Mas enfim, depois do choro da avó, do sermão do pai preocupado, do telefonema da mãe, do choro da vera, do abraço apertado do alex e do último beijo do namorado, lá fui eu, e lá consegui ficar mais calma… já à espera para embarcar, retoquei a maquilhagem, actualizei a agenda, e pus-me nos “conformes”. E fiz logo um amigo! Um português nos seus 40 anos que vivia na Holanda, e entrou em conversa comigo… estava a ser muito simpático – impecável mesmo – até ao momento em que tive a ligeira sensação de que me estava a assediar, constantemente a dizer que eu era linda – que “os holandeses iam andar todos em filinha atrás de mim” LOL -, a perguntar se eu tinha namorado e a insinuar o tempo todo que não era casado nem tinha filhos…. Baahh. Bem me avisaram para não dar tanta confiança assim à toa. E para perder esta mania de achar que faço amigos em 10 minutos xD
Mas adiante, felizmente o meu lugar no avião era bem longe do dele. Lá me instalei, ao pé de uns senhores (um casal) que trouxeram consigo um cachorrinho pequeno – O QUE EU ACHEI O MÁXIMO!!! (passei a viagem toda a dar-lhe festinhas, mas shhh) – e acabei aqui a escrever este primeiro trecho daquela que vai ser uma das experiências mais marcantes da minha vida – Erasmus em Amesterdão, 6 meses, ou mais precisamente, 5 meses e 16 dias.
PS. AMO andar de avião. Já me tinha esquecido do quão bom era! (a última vez que andei foi há muitos anos).
Ps.2 – queria tanto tirar fotos ao cachorrinho. Mas acho um abuso estar a pedir isso aos donos… já lhes pedi uma caneta emprestada para escrever isto. Como é que eu me fui esquecer de colocar uma caneta na mala? Grande falha”.
Isto foi o que escrevi até àquele ponto, no meu caderninho. Mas tendo em conta que o meu dia teve bem mais do que 24 horas e que não parei um minuto, muita coisa ainda vem para contar…
Bom, mal saí do aeroporto senti-me logo feliz. Pensei que ia chegar na merda, toda deprimida e com saudades e a sentir-me sozinha… mas até não. Estava determinada e com vontade de aproveitar ao máximo os 6 meses que se seguem, estava mesmo, diria, feliz! Mesmo com aqueles pequenos grandes pormenores de ter que esperar séculos que as malas viessem, e depois andar sozinha num aeroporto estrangeiro (o que me vale é que as placas também estavam em inglês), com 3 ou 4 malas às costas – o peso era tanto que me desequilibrava – às voltas por um aeroporto que é só 5 vezes o tamanho do da Portela, até encontrar casas-de-banho, uma loja que me vendesse algo que comer, e o ponto de encontro onde ia ter com o ESN – Erasmus Student Network. Por acaso, até me adaptei bem… estava à espera de chegar lá toda perdida, sem saber para onde ir nem o que fazer, mas até me desenrasquei bem e rápido. O meu inglês falado estava bem melhor do que eu pensava. Pelo menos todo o mundo a quem eu pedi informações me percebeu à primeira.
Puxando mais para a frente, que o dia foi looooongo, e coisas que não interessam a ninguém, papéis para aqui, papéis para ali, registo no município aqui, abrir conta bancária ali, assinar contrato de arrendamento aqui, comprar um cartão de telemóvel ali… enfim, umas boas 4 ou 5 horas de pura burocracia, seca e papelada que não valem a pena 4 ou 5 parágrafos. Pelo menos fiquei descansada, porque num só dia consegui tratar da papelada toda – só falta ir matricular-me na faculdade – e estou livreeeeee. Também aproveitei o meu pico de energia (não sei onde o fui buscar, não dormi nem 1 minuto) para fazer as coisas mais chatas tipo algumas compras, e arrumar as roupas e as coisas no quarto.
O que mais interessa nisto tudo: isto é BRUTAL! Fantástico! Nunca pensei dizer isto logo no 1º dia, sempre me disseram que a 1ª semana ía ser horrível e que eu ía-me sentir bué sozinha, mas a verdade é que não me sinto sozinha at all… também ajuda o facto de ter estado sempre ocupada – se calhar quando chegar a hora de ir dormir a saudade vai começar a bater mais, a menos que eu emborque uns quantos copos de vinho branco ali no Café Uilensteide eheheh – mas a verdade é que eu adaptei-me bastante mais rápido do que aquilo que esperava… sinto-me em casa, sinto que sempre pertenci aqui, sinto-me confortável, tristeza zero, vontade de sair, muita (mas, claro, tinha de vir escrever isto, ou não me chamava Cláudia. E também estou a precisar de um banho daqueles, apesar de ter acabado de me aperceber que não tenho toalhas, só uma daquelas pequenas para as mãos, lá vou eu ter que me desenrascar mais uma vez por hoje…). Também conheci pessoas fantásticas, sempre super acessíveis… desde o senhor do supermercado que basicamente teve de fazer todas as compras comigo porque os rótulos estão todossss em holandês, até àquele rapazinho dos EUA super querido que me ajudou a tarde toda com o transporte das malas… e cativantes, com vontade de conhecer mais! O ambiente é super, é mesmo aquele ambiente campus que uma pessoa não sente quando estuda na sua cidade-natal (a pessoa vai às aulas, pode ir sair e tal, mas acaba sempre por voltar para a sua casa, mas aqui não, aqui é uma cidadezinha mesmo só para estudantes, todos com as suas bicicletas – tenho de comprar uma em 2ª mão! Aqui não se anda de forma nenhuma… e o dinheiro que iria gastar em transportes públicos por mês é o preço da bicicleta inteira para os 6 meses). Mesmo a sério, adoro, adoro, amo este ambiente.
Ahhh e tenho tanta coisa que quero fazer por aqui! Tanta mas tanta! 2 horas e meia de voo serviram-me para ler o guia turístico de Amesterdão… era só ver-me a pôr post-it’s nas coisas que não posso, de forma nenhuma, perder. Esperem-me museus, concertos, festivais, coffee-shops (ahh, sobretudo coffee-shops)… espera-me, Amesterdão!!!
Entretanto deixo aqui algumas fotos que tirei... do voo (adoro a paisagem) e do meu quarto... vê-se mal porque a imagem do meu telemóvel é uma porcaria, mas pronto. :)