Diário 10. 15 anos.
Entrada a 22/07/2005 – “(…) Já acabei de ler os 3ºs e 4ºs diários. Já estou a entrar na ‘Fase Miguel’. Agora que olho pra trás e leio o que eu própria escrevi, é que me dou conta das coisas que eu me esqueci de escrever. Comecei a escrever estes diários para organizar as minhas ideias, mas no fundo eles estão um pouco desorganizados. Tão desorganizados como a minha mente. Há tantas coisas que eu não escrevi, ou porque me esqueci ou porque achei que não valia a pena… e agora abri este diário para escrever todas essas coisas, mas não vale a pena. Ficaria aqui a noite toda, e são tantas coisas. A minha cabeça anda a ‘1000 à hora’. Demasiado rápido para eu conseguir raciocinar sobre o PASSADO”.
Entrada a 28/07/2005 – “a avó desligou a água. Hoje, quando fui a puxar o autoclismo, e a lavar a cara e os dentes, não sai água nenhuma. ISTO É NORMAL?! Diz que ‘há água no lavatório para lavar as mãos’, mas ela que lave se quiser. Eu sei que estamos a atravessar uma seca e que devemos poupar água, mas acho que também não é preciso este exagero, pois não?! Estou certa, ou será que não tenho razão (para variar…)? Não tolero isto por muito mais tempo. A paciência tem limites.” (cenas que a minha avó fazia quando vivia com ela)
Entrada a 01/08/2005 – “aqui em casa as coisas vão de mal a pior. Apetece-me tanto chorar, mas tanto. As lágrimas chegam a vir-me aos olhos, mas não consigo mais que isto. Gostava tanto de conseguir chorar, mas sinto-me destruída, VAZIA por dentro. É algo que não consigo explicar. É surreal e destruidor. Se eu conseguisse ver a cor da minha própria aura, aposto que estaria preta. Cheia de mágoa, destruição, luto, TRISTEZA, DEPRESSÃO. Tenho tantas razões para estar assim, mas ao mesmo tempo não encontro razão. Simplesmente estou”. (episódio depressivo quando vivi em casa da minha avó).
Entrada a 11/08/2005 – “a avó deu-me um prazo, até dia 22, para eu sair de casa. O meu pai fiz que ela nunca está ‘a falar a sério’ e que isso é porque ela está ‘revoltada’. Não interessa. Eu tenho orgulho e, se ela quiser, até saio antes. (…) No dia em que vim de férias com o meu pai, a avó ‘tirou-me’ (exigiu que eu lhe desse) as chaves de casa. Foi uma atitude muito estúpida… porque é que ela não tirou as chaves à Tânia também?! Por mim… já nem moro lá… (…) O novo adjectivo que a avó me atribuiu: cínica. a juntar a todos os outros… mas porquê? porque é que eu sou tudo isso para eles? Nunca vêem nada de bom em mim. Se calhar é por dizerem tanto isso que às vezes me torno assim. Outra lei psicológica: as pessoas tendem a tornar-se naquilo que os outros pensam ou esperam que elas sejam. Se calhar, é por isso que a culpada de tudo o que se passa sou eu. (…) Estava na sala a dormir e avó acordou-me à bruta e começou a f*der-me o juízo… a Tânia não gosta que eu esteja no quarto dela (a rainha cá de casa), a avó não me deixa dormir no sofá e começa com coisas se estou no quarto dela… até tive de vir escrever para a casa-de-banho… e tudo isto porquê? não tenho quarto! Tive um ano assim, a aturar isto, estas e outras piores, e depois ainda me dizem que não tenho PACIÊNCIA e que ‘não sei partilhar NADA’. “ (cenas em casa da minha avó).
Entrada a 14/08/2005 – “vim escrever sobre o sonho que tive hoje, super-estranho, para não me esquecer. Sonhei que estava na casa-de-banho da escola e comecei a sentir-me mal e a senhora que está lá a vigiar me dava umas pastilhas muito grandes e que sabiam muito mal, e que supostamente tinham os mesmos efeitos da pílula, mas ninguém me sabia dizer ao certo para o que serviam. A I., a M. e o F. (que estavam comigo) disseram que eram boas. A seguir, estava dentro do lavabo, em cima da sanita, a ter um bebé (!!!)… e estava grávida e nem sabia! Nunca fracção de segundo, estava na maternidade com o meu bebé recém-nascido ao colo e ele estava cheio de tubos enfiados pela boca e pelo nariz porque não conseguia respirar (em vez de estar numa incubadora). E depois eu recebia montes de visitas, que traziam montes de flores… e bolos. O meu bebé começava a falar… tirou os tubos e disse ‘deixa que eu já consigo respirar’ e, com horas de vida, começou a devorar bolos. Como é que isto é possível? Também sonhei com bichos… uns bichos horrorosos que parecem baratas, mas não são (já é a 3ª vez esta semana que eu me lembro de sonhar com bichos). Sonhei com muito mais coisas, mas não consigo construir um sonho, só tenho flashes de imagens.”