5 de setembro de 2010

' Do Avante.

O Avante foi uma experiência extremamente ambígua.

Primeiro, estava com mau feeling (mas também sempre estive, e nem era para ir, nem sei porque é que decidi ir à última da hora). Desde todas as confusões para organizar minimamente as coisas até ao dia em que andei 2 horas a pé por Lisboa à procura da sede nacional do PCP para comprar a porra do bilhete e não havia maneira de dar com aquilo, não estava no espírito. Depois, no dia anterior a ir (5ª feira), com o concerto dos Nouvelle Vague (que foi ÓPTIMO, by the way, mas isso vai para outro post), não dormi nada (1 hora e meia foi muito); chego a casa de manhã (entretanto já é 6ª feira) e não tenho net, fico chateada, porque sou hiper viciada na net, e tinha o post sobre o Avante agendado, mas detesto quando os post's agendados vão para o blog sem eu os rever primeiro; resolvi dar um tempo à net, penso que deve ser uma avaria na zona, vou dormir umas horinhas, não durmo nada de jeito, acordo e preparo as coisas para o avante, faço mil e uma coisas para ver se a net funciona, e NADA, a caminho de lá apanho um trânsito descomunal, um percurso de meia hora demora 2 horas, entretanto quando chego lá já estou numa pilha de nervos.

Primeira noite da festa, e não gosto da festa em si. Sou muito citadina, pouco política e pouco apreciadora de cultura tradicional portuguesa, e no Avante só há discursos políticos e palcos onde estão a dançar folclore. Não há concertos de jeito (mas isso eu já sabia), e uma pessoa quer comer um hot-dog, mas só há feiras regionais, com aqueles doces e biscoitos e vinhos e queijos e o raio que os parta. Ainda assim, nessa noite até estava feliz, porque afinal e ao fim de contas fui ao Avante quase só por causa do Bruno (e porque nunca tinha ido), e estava mesmo naquela de estar com ele e a cagar-me para o resto, e soube-me bem estar com ele naquela noite. Mas essa madrugada correu muito mal. Como não tinha dormido nada na noite anterior, só me apetecia jogar-me ao saco-cama e ficar lá as próximas 10 horas seguidas.

Se dormi uma hora foi muito. Barulho. Trance até às 7 da manhã de um carro que estava a 4 metros da nossa tenda. Pessoas a berrar. Pessoas a atirarem-se para cima da tenda (acordei umas quantas vezes sobressaltada, nem sei como não me deu um AVC). Sim, tudo bem que eu já estava à espera disso. De festivais não se espera outra coisa e essa até é a piada da coisa. No sudoeste era a mesma coisa (excepto o trance em altos berros e pessoas a atirarem-se para cima da tenda, mas, enfim, as pessoas do sudoeste eram muito diferentes das pessoas do avante. as pessoas do sudoeste sempre te respeitavam se estavas dentro da tenda e sempre havia 1 ou 2 horas de manhã em que o silêncio era total, o que nunca aconteceu aqui). E no sudoeste valia a pena. No sudoeste valia a pena não dormir nada de noite, porque todo o festival e todo o tempo que se estava lá, era bom, e o ambiente era tão bom e as pessoas eram tão simpáticas, que não te apetecia dormir, apetecia-te ficar lá a conversar até não aguentares mais com o sono. enfim, o sudoeste era tudo de bom. e, no Avante, não. para mim, não valia a pena. as pessoas eram estúpidas e idiotas (falo de pessoas que eu não conhecia de lado nenhum e mandavam-se para cima da tenda, claro, não das pessoas com quem fui), e o que menos me apetecia era ficar ali a ouvir trance da 1 às 7h da manhã NON-STOP, estava a DAR EM LOUCA. e como eu, nessa altura, já estava irritada (mesmo muito), e estava a doer-me a cabeça (mesmo muito), e quando estou irritada tomo decisões precipitadas e sou ainda mais impulsiva do que sou normalmente, viro-me para o Bruno e digo "hoje vou-me embora".

E assim decidimos. O Bruno também não estava no espírito, aliás, o Bruno descobriu que não gosta de festivais porque este foi o primeiro a que ele foi e ele não gostou mesmo (ainda menos do que eu). Claro que fui alvo de uns quantos olhares dirigidos a mim, como quem diz "namorada possessiva, queres bazar e obrigas ele a ir contigo" (o que, devo dizer, nunca aconteceu, porque eu disse ao Bruno "vou-me embora", e não "vamos embora" ou "vou-me embora e vens comigo", e até porque me fartei de insistir para que ele ficasse e me deixasse ir sozinha, mas pronto, a culpa caiu para cima de mim à mesma, claro).
Resolvemos esperar até de noite, ver os Deolinda, e só depois ir embora, quando a festa acabasse, ou seja, quando os idiotas resolvessem ir para o acampamento mandar-se para cima das tendas das outras pessoas.

Dormi uma longa (duas horas no avante já foi muito) sesta, e acordei subitamente melhor (porque será? porque eu sou a pessoa mais insuportável e inaturável quando me privam de sono?), e já não me apetecia ir embora. Assim, do nada, comecei a entrar no espírito. Apetecia-me ficar acordada a noite toda e ser eu a pessoa a atirar-me para cima das tendas dos outros. Mas, na altura em que comecei a entrar no espírito e até a gostar daquilo, a tenda já estava desmontada, e já era de noite, e já estava tudo arrumado, e já tinhamos avisado a mãe do Bruno que vinhamos cá para casa. E o Bruno queria mesmo mesmo mesmo ir embora, e não ia dizer "tá bem, então vai, eu fico aqui, tchau".

resumindo e concluindo: ao inicio, odiei aquilo. a única coisa boa era a companhia. nem uma moca de jeito eu consegui apanhar. quando decidi que não valia a pena martirizar-me até domingo à noite se nas primeiras 24 horas estava a desesperar, achei que tinha sido a decisão mais acertada e que não me ia arrepender. e não me arrependo. mas, uma parte de mim, gostava de ainda lá estar. a aproveitar o espírito que chegou uma noite atrasado porque eu consegui (com muito esforço) adormecer-me durante 2 horas à tarde. no final de contas, tudo se resumiu a um problema muito simples: privação de sono e a irritabilidade que me trouxe. e toda uma conjectura de acontecimentos anteriores (o facto de já ir para lá com a ideia "Não gosto do Avante", e de ter sido uma confusão para conseguir ir, etc) que não foram a meu favor.

mas não gosto de pensar no lado mau das coisas, por isso, neste momento estou a ver o bom: eu e o Bruno nos transportes públicos às 23h com um péssimo aspecto (parecíamos fugitivos e teve piada), um banho quente (a água saiu castanha, juro, e só estive lá um dia), comida de jeito, uma cama fofinha à minha espera; e, sobretudo: SILÊNCIO. até consigo ouvir o silêncio. nunca apreciei tanto este silêncio.

como não sei se vou ter net quando chegar a casa, aqui fica um: até quando puder, ou até eu chamar um técnico da zon a casa e fazer dele refém até me arranjarem a net. e dificilmente volto a pôr os pés no avante...

como disse, foi uma experiência ambígua e estranha. mas, acima de tudo, foi uma experiência. as experiências são sempre boas, aprende-se sempre alguma coisa. e sempre satisfiz a minha fantasia de ter sexo numa tenda de campismo.

Muaah @

10 comentários:

Anónimo disse...

Normalmente á sexta não há grandes bandas a tocar. Além disso tiveste azar onde acampaste ..

E os Deolinda? se os viste já valeu muito porque eles são um conjunto mesmo muito bom.

Menina disse...

Eu nunca fui ao Avante..tenho alguns amigos que já foram ou costumam ir e que gostam..por isso achava que até iria gostar. A parte da música portuguesa e produtos mais tradicionais até gosto, uma vez que ouço muita música portuguesa e acho alguma piada a essas coisas. Agora o que contaste de estarem sempre a cair em cima da tenda e a música toda a noite..CREDO! Eu sou como tu, se não dormir fico com um humor que ninguém me suporta..para mim isso não dá mesmo. Tenho de dormir, por pouco que seja..

Ao menos ficaste com a experiência de ir lol Agora já sabes mesmo como é..

beijinho*

Rafaela Rolhas disse...

Epá gostei da tirada final :p

Anónimo disse...

Epah nem tudo foi mau, prontos lol

*** ;)

Botas disse...

Uma coisa, que eu sei que tu sabes, foi muito boa.=p

<3

JL disse...
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JL disse...
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JL disse...
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JL disse...

Bom encontrei este texto no facebook, e não pude deixar de comentar, não leves a mal o texto, desculpa a "invasão".

Bom, em primeiro lugar quando estamos naqueles dias de «mau feeling» e com poucas horas de sono, é normal não aproveitar a ocasião, quer estejamos no Avante!, no Sudoeste, na praia ou no cinema.

Em segundo lugar não concordo nada com a afirmação de que no Avante! só há discursos políticos e palcos de folclore. Existe, realmente um palco somente para o folclore, o que por si é de louvar, pois, o folclore ainda tem muitos adeptos em Portugal. Todavia, terás que dar o braço a torcer que bandas como Deolinda, Tim, Eina, Dias de Raiva, Pedro Abrunhosa etc não são, com certeza, da área do folclore. E então o concerto de sexta-feira? Foi música clássica. Falando nisto, a festa do Avante! é o único espaço onde eu consigo ouvir música clássica a um preço muito acessível (19.5 euros da ep). Vendo o nome que deste ao teu blog, e a referência a Nouvelle Vague (que concordo foi grande concerto), não sei como deixas te escapar bandas de jazz que marcaram presença este ano no Avante!. Falo concretamente de bandas como o Bernardo Sassetti Trio, Ricardo Pinheiro Sexteto e da Orquestra de Jazz de Matosinhos com o Kurt Rosenwinkel.

Em termos de organização, eu penso (mas isto é minha opinião), que o Avante! é talvez a festa mais bem organizada em Portugal, pois, temos que ter em conta que ali o trabalho é totalmente voluntario, feito pelos militantes do partido comunista. Muito destas pessoas, são simples trabalhadores, estudantes ou reformados e não empresas privadas que trabalham em festivais todos os anos. Mas, adimto que ano após ano o parque de campismo está a ficar cada vez mais “agressivo”. É um dos problemas que se coloca à festa. Contudo, e importante frisar que os exageros cometidos no parque de campismo é um problema, actual, dos jovens nestas noites de Verão. Ocorrendo estes “distúrbios” não só no parque de campismo do Avante! mas em outros sítios como o Sudoeste, BOOM. Como diz o outro, o problema é do muito álcool e das mocas. Todavia, o resultado final produzido pela festa é muito positivo.

Por fim, permite dizer o seguinte. Era da opinião que os «citadinos» gostavam do Avante!, pois, este é bastante citadino e não no meio da natureza. O parque de campismo está colocado numa cidade, entre prédios, ao pé de uma superfície comercial; o trânsito de carros e de transportes públicos é visível.
Por fim, fica um conselho. Dá outra hipótese, e não vás com espírito “festivaleiro” para o Avante!, pois este não é, nem pretende ser, um festival de Verão. É uma festa iminente política, dinamizada pelo PCP e seus simpatizantes, que tenta divulgar, tanto a situação política do país e suas propostas, como a cultura e a música portuguesa. Ainda podes encontrar na festa outros espaços de interesse (espaço ciência; espaço internacional (com comida e bebida de vários países e de outras culturas); espaços criança; um slide; espaço de jogos; espaço central; exposições de arte; cinema (este ano passou lá o documentário PARE, ESCUTE E OLHE); teatro).

Tudo de bom, cumprimentos.

JL disse...

Desculpa lá os vários textos repetidos, isto deu um erro qualquer.