24 de abril de 2011

"Hoje sou uma Cláudia mais evoluída que ontem".

Há 4 tipos de pessoas:

1. as que não sabem que não sabem - são completamente superficiais, vivem à tona, não utilizam o seu potencial, mas também não sabem, não fazem ideia de que existe alguma coisa para além do seu mundinho, e daquilo que vêm e ouvem, dos seus sentidos; nunca se perguntaram, nem uma vez na vida, qual o sentido da vida, o significado da existência, se há algum objectivo em tudo, nunca se esforçaram por se auto-conhecerem nem nunca estiveram em introspecção, nunca "filosofaram"; são inconscientes e ignorantes, mas são felizes, porque não sabem...que não sabem.

2. as que sabem que não sabem - sabem que existe algo mais do que aquilo que os nossos olhos vêm, algo superior (não me refiro a deus em particular, mas é uma das formas de o denominar), uma conexão entre os seres humanos, um sentido mais profundo para a vida e para a existência, mas nunca se preocuparam muito em explorar esse seu lado, preferem manter-se à tona, porque sabem que aquilo que o tipo nº1 de pessoas não sabe pode ser extremamente doloroso em termos psicológicos.

3. as que sabem que não sabem, mas querem saber e procuram saber - pessoas que vão mais fundo, mergulham, por assim dizer, em águas mais profundas e, muitas vezes, também mais geladas; elas vão, no entanto, alternando, têm fases do tipo nº 2 e do tipo nº 3, isto é, sabem sempre que não sabem, mas por vezes preferem manter-se à tona, e noutras vezes são mais introspectivas; têm fases na vida, frequentes e geralmente prolongadas, onde se perguntam a si mesmas "qual o significado de tudo, qual o sentido, o objectivo, porquê, para quê", e é provável que, em cada fase, não cheguem a respostas claras, mas que tenham momentos de lucidez, de esclarecimento, e que adquiram algum conhecimento, alguma aprendizagem para a fase mais "superficial" que se segue.


4. o Gandhi (a título de exemplo, obviamente) - nunca vêm à tona, estão sempre num mundo espiritual, muito conscientes da realidade, demasiado; estas pessoas, das duas uma: ou encontram uma paz imensa dentro de si, um estado a que muito poucos seres humanos chegam, ou entram em depressões severas e por vezes até mesmo distúrbios mentais.

Eu devo dizer que estou no tipo 3 e estou muito contente com isso. Não quero ser ignorante nem aceitar apenas tudo aquilo que os meus sentidos captam (ainda que sabendo que, dessa forma, seria genuinamente feliz), não quero ter noção mas não querer explorar, mas também não quero estar demasiada e constantemente auto-consciente das coisas. Estou bem por estar onde estou porque, finalmente, encontrei uma paz e um equilíbrio. Entre a Cláudia extrovertida que todos conhecem, sempre houve uma Cláudia sombria, demasiado pensativa, filosófica, desconfiada de tudo, sem norte na vida, diria até depressiva, sem nunca ter estado verdadeiramente deprimida no verdadeiro sentido da palavra. Já tive fases neutras e fases muito negras, em que pensava e pensava e pensava e questionava coisas para as quais sabia que nunca ia encontrar resposta, mas continuava, felizmente nunca caí numa depressão por causa disso, porque ao mesmo tempo que estava nessa fase tinha consciência de que tinha de ser suficientemente forte em termos psicológicos, e tinha de ter cuidado. E tive. Hoje em dia, posso dizer que estou num estado equilíbrio e em contacto comigo mesma. Sim, muitas vezes fico-me pela tona, sou superficial, vivo no dia-a-dia e nas coisas triviais, e muitas vezes vou até demasiado fundo, no meio disso tudo consegui encontrar um balanço que me permite:

  • aceitar-me como sou, defeitos incluídos, e eles são muitos;
  • estar em paz comigo mesma, não ficar a remoer em atitudes menos correctas da minha parte ou da parte dos outros;
  • relativizar o "bom" e o "mau", há coisas e situações e atitudes (e por isso coloquei "menos correctas" em itálico no ponto anterior, dado o seu carácter subjectivo) que são demasiado subjectivas e que não posso catalogar, desde o início, como "bom" ou "mau";
  • estar constantemente num estado "zen", isto é, calma e pacífica, não me chatear com o que não vale a pena e, a cada situação ou contexto, pensar para mim mesma que tenho duas opções - chatear-me e ficar magoada ou deixar passar porque, no fundo, não tem assim tanta importância - o que me leva ao ponto seguinte;
  • relativizar a importância das coisas! há coisas que realmente não importam, nem merecem a pena que nos chateemos e fiquemos a pensar e a remoer no mesmo assunto over and over, que só absorvem energia sem chegar a lado absolutamente nenhum, como por exemplo, discussões parvas (por isso sou "permissiva", porque evito conflitos e raramente confronto, não porque seja medrosa ou algo assim, mas porque a maioria das coisas que chateiam a maioria das pessoas, a mim não me chateiam minimamente);
  • ver, sempre que possível, o lado positivo das coisas; ver o lado positivo das pessoas (nisto sempre fui muito boa, achava dantes que era um defeito, mas agora posso afirmar que é uma qualidade, sempre fui de ver sempre só o lado bom das pessoas, hoje vejo o bom e o mau, mas dou mais valor ao bom) e, sobretudo, aprender com elas! damo-nos sempre com pessoas diferentes, todas elas com coisas boas e coisas más (tendo sempre em conta que este "bom" e "mau" é extremamente subjectivo, claro, coisas que para mim são boas, para outra pessoa podem ser más), o importante é retirarmos delas aquilo que achamos que vale a pena para nós, que nos vai enriquecer enquanto pessoas, e tornar-nos melhor. Devo dizer que isto aprendi, sobretudo, com os meus pais, que tão diferentes (mesmo muito) me educaram de formas tão diferentes, e eu, sendo educada de duas formas antagónicas simultaneamente, tive de optar por aquilo que achava melhor para mim absorver, já desde muiiito cedo;
  • saber comunicar - e saber comunicar não é saber falar, que isso toda a gente sabe, é saber ouvir! saber escutar o outro e saber colocar no lugar dele, e pensar que, afinal, a pessoa que está à nossa frente, e apesar de todas as fachadas e papéis sociais que todos encarnamos, é apenas um ser humano, com as mesmas emoções, paixões, medos, que nós. Esta consciência permite-me aproximar-me da pessoa, deixá-la à vontade, estar menos defensiva, dar mais oportunidade e benefício da dúvida;
  • saber como se adaptar aos outros: obviamente que eu não vou falar sobre a origem do mundo e as profecias de Nostradamus nem dos livros do José Saramago com uma pessoa do tipo nº1, nem vou falar da casa dos segredos com uma pessoa do tipo nº4 ou nº3; mas isso não quer dizer que eu seja falsa, porque até nem sou, sou bastante verdadeira e fiel a mim mesma. no entanto, não deixo que isso me limite, não gosto de criar barreiras entre mim e outra pessoa só por ver que ela é muito diferente de mim e que eu estou no tipo 3 e ela está no tipo 1... não, eu vou adaptar-me a ela, vou puxar do meu tipo 1 e vou falar das músicas da publicidade do Pingo Doce e do estado do tempo;
  • saber estar sozinha sem que isso seja um incómodo - como já referi várias vezes, eu adoro estar sozinha, apreciar o silêncio, escutar-me a mim mesma. aliás, esta foi uma das coisas que me ajudou a crescer imenso, o facto de eu por vezes passar imenso tempo sozinha (também depende das fases em que estou, se estou numa fase superficial tendo a não querer estar sozinha, depende). Com o estar sozinha aprendi não a sentir-me e a ser uma pessoa solitária, mas sim a estar em contacto comigo mesma, antes de estar em contacto com os outros;
  • ter sempre em conta que é preciso actualizar-me, utilizar o meu potencial e evoluir sempre num caminho positivo, em direcção a uma existência pacífica comigo mesma, a um eu ideal, ou seja, apesar de eu estar contente e em paz com o que sou "por dentro" e com a minha personalidade, estar consciente de que posso sempre melhorar, e felizmente estou a evoluir muito neste sentido, todos os dias penso "sou uma Cláudia melhor, uma melhor pessoa, menos ignorante, com um bocadinho mais de conhecimento, mesmo que muito pouco, do que a Cláudia de ontem" - e esta sensação é mesmo óptima;
  • finalmente, aceitar o absurdo da existência, conseguir viver sem estar constantemente a pensar "porquê? para que serve isto, se um dia vou morrer?", conseguir viver aceitando que sim, vou envelhecer e morrer e no fundo no fundo não sou ninguém no mundo inteiro em todos os tempos, mas que pelo menos, enquanto estou cá, estou a ser feliz, estou a viver em paz, e estou a influenciar pelo menos as pessoas que me são mais próximas de uma forma positiva.
É por isto que eu gosto de mim. Não por me achar gira e estonteante e inteligente e sociável - lol, brincadeirinha - nem por ser convencida, que eu digo que sou na brincadeira, mas até nem sou - dado que o meu conceito de presunção é achar-se melhor que os outros, e eu não me acho melhor que ninguém. É por já ter conseguido aceitar-me a mim mesma e a tudo o que me rodeia (e que dantes me fazia extrema confusão e que tentava racionalizar sempre) de forma pacífica, equilibrada, estável, segura. Feliz.

Ainda não alcancei o meu verdadeiro potencial, mas sei que tenho pernas para andar e para chegar lá.

Hoje faço 21 anos.

2 comentários:

Rafaela Rolhas disse...

Mais um texto perfeito +.+
Parabens :D

Botas disse...

Um dia vais passar o Gandhi.=)

<3