13 de março de 2011

' Os meus pontos fracos.

Tenho dois grandes pontos fracos: os números e o desporto.

Desde os 6 anos de idade que oiço "és burra", "és estúpida", dos professores ou até do meu pai a gritar comigo quando perdia a paciência porque eu, já no 6º ano, não percebia nada de fracções, não conseguia compreender a noção de que 1/5 é uma parte de um todo dividido em 5, não compreendia, simplesmente, e ele explicava-me 345 vezes e eu continuava a não compreender, ou como descobrir um X numa equação, ou até a coisa mais simples, conferir se um troco estava correcto, fazer a conta de cabeça antes mesmo de me entregarem o troco. o meu pai esforçava-se e fazia por bem, ele sempre foi o melhor em números, QI altíssimo, super inteligente, queria que eu fosse como ele, ou melhor, queria que eu compreendesse as coisas que era suposto eu compreender para a idade que tinha, nós ficávamos horas e horas e horas, um dia inteiro, a estudar matemática básica e simples, era extremamente irritante para o meu pai, que tem um curso de engenharia, ficar a explicar-me esse tipo de coisas durante horas a fio, e é normal que ele perdesse a paciência, mas magoava-me, claro, e depois do primeiro "estupida!" eu já não conseguia concentrar-me mais, só chorava, chorava, e ele a dizer "pára de chorar e concentra-te" e eu chorava e chorava. como é possível esquecer isso? obviamente, a matemática tornou-se num trauma para mim. era extremamente frustrante para mim tentar perceber uma coisa que não conseguia, a chamarem-me de estúpida e a chorar. nunca mais tentei...

Desde os 6 anos de idade que oiço "és gorda", "és preguiçosa", "não sabes jogar", os meus colegas a mandarem-me com bolas de futebol, os professores nunca faziam nada, eu sempre fui péssima em desporto e era uma criança gorda, e ainda contribuiam para isso, em vez de me apoiarem, mandavam-me ainda mais abaixo.

Hoje, com 20 anos, e apesar de já ter crescido em muitos sentidos, e da minha auto-estima estar num lugar muito diferente do que estava nessa altura, essas palavras ficaram. eu mentalizo-me, automaticamente, de que sou preguiçosa e gorda e burra, logo desde o início, acho que não vou conseguir fazer nada. todas as disciplinas e cadeiras que tive com números, a partir dessa altura, foram um desastre. eu podia até entender, mas nunca me esforcei muito, porque lá no fundo, bem no fundo, havia uma cláudia que dizia "não vale a pena, não vais conseguir, não vais passar, não percebes nada disto". talvez seja por isso que já deixei uma Estatística para trás e vou a caminho da segunda. agora tenho andado a tentar recuperar a primeira (Estatística e Análise de Dados I), mas é uma luta mental sempre que tenho de ir a uma aula (e convenhamos que o horário não ajuda nada). É uma luta mental e custa, muito.

Por isso digo que ter-me inscrito na natação foi uma vitória para mim. porque durante anos basicamente rezei para que o 12º acabasse e eu nunca mais tivesse que fazer educação física na vida, eu jurei que nunca mais ía fazer exercício na vida, decisão tomada de cabeça quente, sem pensar nas consequências, claro. não pelo exercício em si, que esse não tem nada de mal, mas porque desde a primeira aula da minha vida que associei exercício a coisas más, a gozarem-me, a humilhação, a sair de lá derrotada, ao oposto de me apoiarem em algo que eu odeio de natureza. sempre me diziam que era "normal" e que "os miúdos são maus", mas aquelas aulas custavam-me horrores, muitas vezes ia para a casa-de-banho chorar e à maioria das aulas faltava dizendo que me tinha esquecido do equipamento.

Ainda hoje oiço "não vais aguentar nem 3 semanas na natação, aposto", tudo bem que não dizem por mal, que dizem a brincar, afinal ouvi isso de pessoas que não conhecem o meu background, mas sinceramente, isso puxou de mim a cláudia que já está farta de ser humilhada e que a deitem abaixo, e por momentos apeteceu-me desistir, ceder ao meu auto-conceito de cláudia-que-nunca-vai-conseguir-fazer-desporto-porque-a-mata-psicologicamente, mas estou a tentar que isso não aconteça, a pensar de cada vez que vou à natação "não és a cláudia que um dia disse que nunca mais havia de fazer desporto, és a cláudia nova que vai continuar".

já tenho idade para ser crescidinha e não limitar a minha vida por criancices do passado. mas nunca posso deixar de me lembrar de certas coisas que me aconteceram, há 14 anos atrás, e que ainda hoje me afectam, e lembro-me delas, infelizmente, sempre que me confronto com algo que está fora da minha zona de conforto. para mim, de todas as vezes que ganho, mentalmente, à cláudia antiga, é uma autêntica vitória, neste caso, de cada vez que saio de uma aula de natação ou de estatística e fico a pensar que desta vez sim, dei o meu melhor, e não pensei por uma fracção de segundo que não ia conseguir. agora, eu acredito em mim. e isso é o mais importante.

daqui a um mês, e já estou a dar uma semana de folga, veremos se "aposto que nem vais aguentar 3 semanas de natação", veremos! esta semana fui lá todos os dias.

7 comentários:

Anónimo disse...

Se for preciso ainda vou com cartazes e a gritar Cláudia Mariana quando tiveres a nadar !!

(hmm, pensando melhor retiro o que disse:P)

^^

Salsa disse...

As coisas tem que ser feitas por gosto e não por obrigação.
Acho que fazes bem em não esquecer o passado assim como não ficares agarrada a ele.

Ana Catarino disse...

Quanto ao desporto, compreendo-te a 100%, também era assim como tu. :s Era tão mau.

Menina disse...

Em relação ao desporto sempre gostei e tive jeito para a coisa ;) Cheguei a ponderar ir para a área e tudo lol

Quanto à matemática, sempre foi o meu ponto fraco..mas, por incrível que pareça, quando cheguei à faculdade passei a gostar bastante de todas as cadeiras que envolvem matemática e números e até as faço com alguma facilidade, muito estranho! Acho que nunca me esforcei muito, achando logo à partida que não tinha jeito..

Rafaela Rolhas disse...

Quanto a estatistica, se for como a minha, até é fácil.
Quanto a natação, não duvido qe vas conseguir mais qe 3 semanas. Aqilo é awesome (mas tb sou suspeita pq gt mto de exercicio fisico)

DC disse...

Quando somos putos somos extremamente maus,eu era e a maioria dos putos também o é.

Esse "trauma" há-de acompanhar-te sempre, mas tens de ter o discernimento para o utilizar de uma maneira positiva, dar-te força para atingires hoje o que não conseguias em criança.

A autoestima faz milagres, e ela pode ajudar-te a evoluíres como pessoa... nem que seja nadando e fazendo as Estatísticas e afins. (damn, também tenho essa para fazer este semestre).

Já agora, Educação Física sempre foi a minha aula preferida, adorava!

Kiss ***

Botas disse...

Vais ficar viciada naquilo vais ver.=P

<3