O Avante foi uma experiência extremamente ambígua.
Primeiro, estava com mau feeling (mas também sempre estive, e nem era para ir, nem sei porque é que decidi ir à última da hora). Desde todas as confusões para organizar minimamente as coisas até ao dia em que andei 2 horas a pé por Lisboa à procura da sede nacional do PCP para comprar a porra do bilhete e não havia maneira de dar com aquilo, não estava no espírito. Depois, no dia anterior a ir (5ª feira), com o concerto dos Nouvelle Vague (que foi ÓPTIMO, by the way, mas isso vai para outro post), não dormi nada (1 hora e meia foi muito); chego a casa de manhã (entretanto já é 6ª feira) e não tenho net, fico chateada, porque sou hiper viciada na net, e tinha o post sobre o Avante agendado, mas detesto quando os post's agendados vão para o blog sem eu os rever primeiro; resolvi dar um tempo à net, penso que deve ser uma avaria na zona, vou dormir umas horinhas, não durmo nada de jeito, acordo e preparo as coisas para o avante, faço mil e uma coisas para ver se a net funciona, e NADA, a caminho de lá apanho um trânsito descomunal, um percurso de meia hora demora 2 horas, entretanto quando chego lá já estou numa pilha de nervos.
Primeira noite da festa, e não gosto da festa em si. Sou muito citadina, pouco política e pouco apreciadora de cultura tradicional portuguesa, e no Avante só há discursos políticos e palcos onde estão a dançar folclore. Não há concertos de jeito (mas isso eu já sabia), e uma pessoa quer comer um hot-dog, mas só há feiras regionais, com aqueles doces e biscoitos e vinhos e queijos e o raio que os parta. Ainda assim, nessa noite até estava feliz, porque afinal e ao fim de contas fui ao Avante quase só por causa do Bruno (e porque nunca tinha ido), e estava mesmo naquela de estar com ele e a cagar-me para o resto, e soube-me bem estar com ele naquela noite. Mas essa madrugada correu muito mal. Como não tinha dormido nada na noite anterior, só me apetecia jogar-me ao saco-cama e ficar lá as próximas 10 horas seguidas.
Se dormi uma hora foi muito. Barulho. Trance até às 7 da manhã de um carro que estava a 4 metros da nossa tenda. Pessoas a berrar. Pessoas a atirarem-se para cima da tenda (acordei umas quantas vezes sobressaltada, nem sei como não me deu um AVC). Sim, tudo bem que eu já estava à espera disso. De festivais não se espera outra coisa e essa até é a piada da coisa. No sudoeste era a mesma coisa (excepto o trance em altos berros e pessoas a atirarem-se para cima da tenda, mas, enfim, as pessoas do sudoeste eram muito diferentes das pessoas do avante. as pessoas do sudoeste sempre te respeitavam se estavas dentro da tenda e sempre havia 1 ou 2 horas de manhã em que o silêncio era total, o que nunca aconteceu aqui). E no sudoeste valia a pena. No sudoeste valia a pena não dormir nada de noite, porque todo o festival e todo o tempo que se estava lá, era bom, e o ambiente era tão bom e as pessoas eram tão simpáticas, que não te apetecia dormir, apetecia-te ficar lá a conversar até não aguentares mais com o sono. enfim, o sudoeste era tudo de bom. e, no Avante, não. para mim, não valia a pena. as pessoas eram estúpidas e idiotas (falo de pessoas que eu não conhecia de lado nenhum e mandavam-se para cima da tenda, claro, não das pessoas com quem fui), e o que menos me apetecia era ficar ali a ouvir trance da 1 às 7h da manhã NON-STOP, estava a DAR EM LOUCA. e como eu, nessa altura, já estava irritada (mesmo muito), e estava a doer-me a cabeça (mesmo muito), e quando estou irritada tomo decisões precipitadas e sou ainda mais impulsiva do que sou normalmente, viro-me para o Bruno e digo "hoje vou-me embora".
E assim decidimos. O Bruno também não estava no espírito, aliás, o Bruno descobriu que não gosta de festivais porque este foi o primeiro a que ele foi e ele não gostou mesmo (ainda menos do que eu). Claro que fui alvo de uns quantos olhares dirigidos a mim, como quem diz "namorada possessiva, queres bazar e obrigas ele a ir contigo" (o que, devo dizer, nunca aconteceu, porque eu disse ao Bruno "vou-me embora", e não "vamos embora" ou "vou-me embora e vens comigo", e até porque me fartei de insistir para que ele ficasse e me deixasse ir sozinha, mas pronto, a culpa caiu para cima de mim à mesma, claro).
Resolvemos esperar até de noite, ver os Deolinda, e só depois ir embora, quando a festa acabasse, ou seja, quando os idiotas resolvessem ir para o acampamento mandar-se para cima das tendas das outras pessoas.
Dormi uma longa (duas horas no avante já foi muito) sesta, e acordei subitamente melhor (porque será? porque eu sou a pessoa mais insuportável e inaturável quando me privam de sono?), e já não me apetecia ir embora. Assim, do nada, comecei a entrar no espírito. Apetecia-me ficar acordada a noite toda e ser eu a pessoa a atirar-me para cima das tendas dos outros. Mas, na altura em que comecei a entrar no espírito e até a gostar daquilo, a tenda já estava desmontada, e já era de noite, e já estava tudo arrumado, e já tinhamos avisado a mãe do Bruno que vinhamos cá para casa. E o Bruno queria mesmo mesmo mesmo ir embora, e não ia dizer "tá bem, então vai, eu fico aqui, tchau".
resumindo e concluindo: ao inicio, odiei aquilo. a única coisa boa era a companhia. nem uma moca de jeito eu consegui apanhar. quando decidi que não valia a pena martirizar-me até domingo à noite se nas primeiras 24 horas estava a desesperar, achei que tinha sido a decisão mais acertada e que não me ia arrepender. e não me arrependo. mas, uma parte de mim, gostava de ainda lá estar. a aproveitar o espírito que chegou uma noite atrasado porque eu consegui (com muito esforço) adormecer-me durante 2 horas à tarde. no final de contas, tudo se resumiu a um problema muito simples: privação de sono e a irritabilidade que me trouxe. e toda uma conjectura de acontecimentos anteriores (o facto de já ir para lá com a ideia "Não gosto do Avante", e de ter sido uma confusão para conseguir ir, etc) que não foram a meu favor.
mas não gosto de pensar no lado mau das coisas, por isso, neste momento estou a ver o bom: eu e o Bruno nos transportes públicos às 23h com um péssimo aspecto (parecíamos fugitivos e teve piada), um banho quente (a água saiu castanha, juro, e só estive lá um dia), comida de jeito, uma cama fofinha à minha espera; e, sobretudo: SILÊNCIO. até consigo ouvir o silêncio. nunca apreciei tanto este silêncio.
como não sei se vou ter net quando chegar a casa, aqui fica um: até quando puder, ou até eu chamar um técnico da zon a casa e fazer dele refém até me arranjarem a net. e dificilmente volto a pôr os pés no avante...
como disse, foi uma experiência ambígua e estranha. mas, acima de tudo, foi uma experiência. as experiências são sempre boas, aprende-se sempre alguma coisa. e sempre satisfiz a minha fantasia de ter sexo numa tenda de campismo.
Muaah @