Começo a ficar preocupada. Tenho 20 anos e o meu instinto maternal começa a manifestar-se. Tão cedo!
Sei que quero ser mãe, um dia, o problema não é esse. O problema é que, ultimamente, passo cada vez mais tempo, dedico largas horas a pensar em como seria eu ter uma filha. Faço altos filmes, sempre com uma menina (raramente me imagino a ter rapaz). Na maioria das vezes nem penso na presença do pai, é mais uma coisa eu-minha-filha.
E fico horas a pensar… como ia educá-la, ao que ia expô-la, como queria que ela fosse, que ela crescesse… fico a pensar que ia aceitá-la da forma que ela fosse, ia dar a minha opinião, se concordava ou não com as atitudes e escolhas dela, mas acima de tudo ia aceitar… que ia ter orgulho nela, quer ela fosse advogada ou varredora de lixo das ruas… quer ela fosse heterossexual, bissexual ou homossexual… quer ela fosse betinha ou hippie… fosse ela como fosse… até já tenho nomes em mente…. Uma Camila, uma Vera, uma Beatriz… nomes pouco comuns mas não “esquisitos”…
Fico a pensar como seria mudar-lhe as fraldas, acordar a meio da noite quando ela começasse a chorar, alimentá-la, pô-la a arrotar, chatear-me quando ela não parasse de chorar… ir ter sempre com ela e confortá-la quando ela chorasse… beijar-lhe os pezinhos depois do banho, limpá-la com cuidado (não esfregar a toalha na pele), enche-la de cremes para a pele de bebé, vesti-la, comprar as roupinhas mais bonitas para bebé… sentir o cheirinho de bebé dela… decorar um quarto só para ela… se ela saísse à mãe, com certeza ia ser difícil para comer, cuspir a papa toda, ter de me chatear com ela… não ia ter nojo se ela bolçasse ou vomitasse para cima de mim, era sangue do meu sangue, ia amá-la mesmo quando ela fizesse birras horríveis, mesmo quando estivesse super irritada com ela… imagino-a a dizer “mamã” pela primeira vez, a dar os passos pela primeira vez, acho que ia chorar… guardar todos os dentinhos de leite dela, cortar-lhe uma madeixa de cabelo e guardar num álbum cheio de fotografias dela, registar o crescimento dela em suporte escrito e vídeo, diria até, criar um babyblog!… imagino-a a passar tardes com os tios: a Tia Vera, o Tio Sandro, o Tio Alex, a Tia Bu (4 dos meus melhores amigos), a Vó Cristina e o Vô Tim (meus pais), que iriam estragar toda a minha disciplina por mimá-la demais, lol… imagino-a mais velha (3-4 anos), pô-la na natação, ensiná-la a nadar, comprar-lhe uma bóia… na praia, imagino-a a fazer castelos de areia, com a cara branca cheia de protector solar… ela com os penteados que eu lhe fazia, e quando ela começasse a calçar os meus altos-altos e a encher a boca com o meu baton... ensiná-la a andar de bicicleta, de patins, ir passear com ela, ensinar-lhe a apreciar e a respeitar a natureza… ajudá-la nos trabalhos de casa, obrigá-la a puxar pelo pensamento, desenvolver a inteligência e a capacidade de desenrascanço (lol) dela… ir à escola defendê-la se ela chegasse a casa a chorar porque um miúdo tinha gozado com ela… ficar a sorrir a vê-la a brincar com os amiguinhos… ensiná-la os principais valores e princípios morais básicos, como a gratidão, a compaixão, a entre-ajuda, a tolerância, o respeito… vê-la a aplicar esses princípios nos meios sociais (infantário, escola, etc) com os coleguinhas, não ser uma rufia… pô-la em aulas de ballet, vê-la com o tutu cor-de-rosa nas festas da escola… habituá-la a ouvir música de qualidade desde cedo… (em casa só ia passar jazz, soul, música clássica)… pô-la em aulas de piano… enfim, ia investir na educação dela... ler-lhe histórias antes de dormir e incutir-lhe desde cedo o bom hábito da leitura, dar-lhe O Principezinho para ler logo que ela tivesse alguma maturidade para tal… dar-lhe sempre comida saudável, muita fruta, sopa, peixe, arroz, água… filha minha, só ia saber o que era mcdonalds, junk-food e refrigerantes aos 13 anos… telemóveis, computadores, jogos de vídeo, só a partir dos 14… até lá, sempre um estilo de vida saudável, exercício, ao ar livre… acho ridículo hoje em dia ver crianças com 6 anos com telemóveis melhores que o meu, e já com portáteis topo de gama, que fazem birras para irem ao mcdonalds todos os fins-de-semana… enfim… levá-la a sítios novos e diferentes, incutir-lhe o gosto por novas e diferentes culturas, novas e diferentes formas de viver… ensiná-la a ser tolerante, a não discriminar ninguém com base em cor de pele, em orientação sexual, hábitos e costumes culturais/religiosos ou no que quer que fosse… ia mostrar-lhe todas as religiões que existem, que ideais defendem, e deixá-la ser velha o suficiente para escolher que religião que queria seguir, ou se queria seguir alguma… imagino-a a chegar ao pé de mim, um dia, e dizer que estava a morrer porque estava a “sangrar do pipi”… e eu a ter a conversa da menstruação com ela, e aproveitar para ter a do sexo… quando ela fizesse 16 anos, ginecologista com ela, dava-lhe preservativos… sabia que ela o ia fazer, até porque ela vai ser linda e atraente e um amor de pessoa, assim ao menos que o fizesse com protecção… aos 18, a pílula… ter uma conversa com ela sobre a “liberdade com responsabilidade”… iria querer conhecer os namorados (ou namoradas) dela, queria que ela os levasse lá a casa, ia tratá-los bem… dava-lhe a privacidade que qualquer adolescente de 16 anos precisa, não ia ser daquelas mães obcecadas que ficam com o ouvido encostado na porta do quarto… quando chegasse a altura dela escolher o que queria para a vida, não ia pressioná-la nem ser daqueles pais frustrados que, por não terem conseguido realizar os seus sonhos, querem vê-los realizados nos filhos, mesmo que estes não queiram… caramba, se a minha filha chegasse ao pé de mim e me dissesse que queria ser arqueóloga, eu dizia que ela ia para o desemprego (lol), mas que se era o que ela queria mesmo, eu apoiava… íamos discutir, sim, muitas vezes, de certeza, mas ela não ia ser uma pessoa condescendente, era iria dar-me a razão quando sabia que eu a tinha, e vice-versa… ela podia bater com a porta do quarto, ser mal-educada, mas depois iria pedir desculpa, nem que fosse pela má-educação, porque tinha sido assim que eu a tinha ensinado e que me ensinaram a mim… (quantas e quantas vezes eu não falei mal à minha mãe, gritei com ela, bati portas, mas depois ia pedir desculpa mesmo sabendo que eu tinha a razão, mas que a tinha perdido por ter tido a reacção que tive).
Com a minha filha, ia construir uma relação de confiança e abertura… ela podia falar de tudo comigo, e eu de tudo com ela… no entanto, não iria ser amiga dela, porque esse é um erro que muitos pais cometem, isto é, serem amigos em vez de pais (a minha mãe fez isso, sempre foi minha amiga, não minha mãe, e isso a um certo ponto da minha vida em que eu precisava de uma mãe em casa, e não de uma amiga, custou-me, lembro-me)… ia impor regras, discipliná-la, filha minha iria ser bem-educada, ai isso ia… mas ao mesmo tempo, ia mimá-la… ia pegar em todos os erros que os meus pais cometeram enquanto tal, ia fazer de forma diferente, de forma igual em alguns pontos…
E é por andar a pensar demasiado nisto, que fico preocupada. Eu (só) tenho 20 anos e tenho uma vida pela frente, mas ao mesmo tempo, se engravidasse agora, por exemplo, não iria abdicar da oportunidade de ser mãe. Não a deixava para mais tarde. Já apanhei alguns sustos porque o meu período às vezes atrasa-se assim do nada, mesmo tomando a pílula certinha, todos os dias à mesma hora, nem um minuto a mais nem um minuto a menos, e daí ter começado a pensar. Ia ficar decepcionada, ao início não ia aceitar, achava que a minha vida estava a acabar, chorava baba e ranho, fechava-me em casa durante 3 meses, os meus pais deserdavam-me, mas eu ia acabar por dar a volta por cima. Porque seria algo desejado, apenas não desejado no tempo certo, uns (muitos) anos mais cedo. Claro que não vou engravidar de propósito, tomo precauções, tenho a noção de que isso seria uma grande irresponsabilidade, que não estou preparada, que nem tenho maturidade suficiente, mas às vezes apetecia-me imenso! E isso preocupa-me…
Mas, confesso, nunca tinha posto estes meus pensamentos por escrito e até me emocionei ao lê-los :') há pessoas que não nasceram para ser pais, mas eu sei que nasci, tenho a certeza absoluta que um dia quero ser mãe :)
mas esta, é de mim para a minha mãe: Mama, I love you, Mama I care. porque não lhe digo as vezes suficientes.
Muaah @