Para além de ser altamente aplicável à vida real, às relações e ao comportamento humano, é que me permite entender certas coisas que, dantes, considerava mistério.
Não é um curso simplesmente teórico de bla bla bla como muitas pessoas podem pensar! Devo dizer que aplico, em muito, à minha vida, o que aprendi e tenho vindo a aprender neste curso.
Um exemplo directo que tenho são os meus cães. Se há coisa que damos muito – demais, é que já demos milhentas vezes – são as famosas experiências do cão de Pavlov, a aprendizagem por condicionamento clássico. Muito resumidamente, o cérebro faz associações a determinados estímulos, na presença dos mesmos tem determinadas respostas comportamentais/reacções. Apresentam, primeiramente, um naco de carne ao cão e, naturalmente, ele saliva. Depois, apresentam o naco de carne com o barulho de um sino, simultaneamente; após repetidas vezes de apresentação desses dois estímulos (naco de carne e sino) juntos, o cão saliva apenas de ouvir o sino. O cérebro criou novas ligações, que associam o sino ao naco de carne, mesmo que este último não esteja presente. Uma das formas mais engraçadas que já ouvi isto foi do meu prof de AME (Aprendizagem, Motivação & Emoção): “then the dog salivates just by hearing the sound of the bell. He thinks to himself ‘now I know after this sound I’m getting some meet, so I can start to salivate already’ ”. Voltando ao exemplo dos meus cães, apercebi-me de que com eles se passa o mesmo. Há certos movimentos e certos sons que indicam que eles vão à rua, e eles começam logo a ficar inquietos, mesmo que esse movimento não signifique propriamente que eu vá com eles à rua, ou os deixe ir (que às vezes eles vão à rua sozinhos). Só o movimento de me mexer no sofá lhes indica “rua”, pelo simples facto de que, sempre que de facto eu vou abrir a porta para ir à rua, eu tenho de me levantar do sofá para ir abrir a porta xD A vantagem disto? É que a psicologia é uma ciência que, por estudar o comportamento passado, recorrente e provável dos humanos e até dos animais, permite prevê-lo ou até manipulá-lo. Partindo da teoria da aprendizagem por condicionamento clássico, é possível “educar”, neste caso, os meus cães. Levá-los a fazer o que eu quero ou a não fazer o que não quero. Claro que não vou fazer isso, até porque não é assim tão simples, dá demasiado trabalho e leva tempo. Mas é possível. Condicionamento clássico é algo que funciona também muito bem com crianças ou para curar fobias. (ex: experiência do Little Albert, Watson).
Depois, há certos mitos de senso comum que podem ser claramente explicados por esta bela ciência! Um dos maiores mitos que mais eu vejo por aí é que “Não se controla os sentimentos”. Ou os tão conhecidos lugares-comuns “não se manda no coração”. ISSO É MENTIRA!!!!! Controla-se, sim senhora. Se há área da psicologia que eu gosto particularmente, é a área das emoções. Ainda este semestre tenho uma cadeira relacionada com isso e tivemos de fazer, para avaliação, um ensaio sobre emoções, no qual tinhamos de entrevistar alguém que tivesse tido uma experiência emocional muito forte e depois analisar essa experiência segundo determinados critérios. Bem, adorei! Foi um dos trabalhos que me deu mais gozo fazer. Ainda por cima, a situação que tinha em mãos era altamente interessante. Tão interessante e tão complexa que tive dificuldades em analisar aquilo, ao início. Só depois de rever a literatura e ir procurar teorias a não-sei-onde, consegui começar a fazer aquilo. No fim, de tanto esmiuçar o assunto, acabei por ter de cortar quase 1000 palavras extra, fora do limite. Mas voltando à questão das emoções. As emoções são controláveis sim senhora. Antes de mais, há que distinguir entre emoção e sentimento. Emoção é a reacção imediata que temos perante o evento que desencadeou a emoção; sentimento é a emoção identificada, isto é, o nome que damos àquilo que estamos a sentir; o sentimento depende da forma como controlamos a emoção. E esse controlo da emoção é feito a partir do “appraisal”, ou o “diálogo interno”, isto é, a avaliação/interpretação que a pessoa faz da sua emoção. Tendo em conta que uma emoção é, como já disse, a reacção que temos perante o evento que a desencadeou – neste ponto convém dizer que há várias correntes teóricas acerca do que desencadeia a emoção, isto é, se a emoção surge imediatamente após o evento que a desencadeou ou se a emoção só surge dado as reacções fisiológicas que temos face a esse mesmo evento, a famosa discussão “arousal-appraisal”, mas agora não me vou demorar muito nisso, é apenas para dizer que, no exemplo que vou dar a seguir, eu segui a toeria de que a emoção é a reacção imediata ao evento desencadeador, independentemente da reacção fisiológica. Exemplo: ao vermos um rato e sentirmos medo, sendo medo a emoção, podemos subir para cima de uma cadeira e esperar que ele vá embora e gritar, ou podemos interpretar, avaliar, consciencializar a situação de outra forma, e não ter uma reacção tão forte, pensar que o rato não nos vai fazer mal, então aí já não vamos subir para cima de uma cadeira e esperar que ele vá embora e gritar. O lindo disto é que eu consigo, agora, controlar melhor os meus medos/fobias. Por exemplo, eu tenho um medo de morte de abelhas. É irracional, como a maioria das fobias, ou seja, não lhe encontro explicação, nunca fui picada sequer! E, confesso, sempre que vejo uma abelha desato aos gritinhos e a correr… mas, muitas vezes, tento controlar essa emoção. Em vez de desatar aos gritinhos e a correr, controlo a emoção de pânico e penso para mim mesma que, se ficar quietinha, ela não me faz nada de mal, e ela acaba por ir embora. Faço uma reavaliação – appraisal - da emoção (“irracional”) que senti, transformando-a em algo neutro e inofensivo para mim. A longo prazo, posso mesmo vir a perder o medo de abelhas se continuar a fazer isso. O appraisal das situações desencadeadores de medos é uma óptima táctica para tratar fobias, mas não funciona com toda a gente. Já vi acontecer o oposto: uma pessoa deparar-se com um evento desencadeador da sua fobia, e ter um ataque de pânico, mesmo que eu tivesse estado a noite inteira ao lado dele a fazer o appraisal por ele e a racionalizar a situação, a tentar neutralizar a emoção, lol. Mas se a pessoa não fizer esse “appraisal” por si, não vale de nada estar lá alguém a fazer por ela…
Outro mito: quando as pessoas dizem “mas porque é que tens medo de baratas, ou de aranhas, elas são mais pequenas que tu, elas é que fogem de ti, não te fazem mal, não representam perigo”. Eu fartava-me de ouvir isto dos meus pais, quando era pequena e tinha medo de baratas ou coisas assim. Que, por serem animais mais pequenos que eu, não devia ter medo. Mito! Há uma razão muito válida para que uma das fobias mais comuns sejam a bichos pequenos que, à partida, não representam nenhum perigo físico imediato à nossa vida (ou, pelo menos, não tanto como estar frente a frente com um leão esfomeado! Lol). O medo desses bicharocos é altamente adaptativo e vem dos nossos ancestores. Isto é, bichos como baratas, aranhas, ratos, etc., ainda que não saltem, propriamente, para cima de nós e nos ataquem, representam uma fonte potencial de doenças. Essa fonte potencial de doenças vem já de há muito tempo atrás, é uma emoção adaptativa e evolutiva, daí muitas pessoas terem medo de uma aranha microscópica. Medo, nesse caso, é uma reacção que nos leva a evitar e afastar o estímulo – neste caso, os bicharocos.
Resumindo e concluindo, a ciência da psicologia é linda! É quase 100% aplicável à vida real, tanto nas coisas quotidianas, banais e individuais (como medos, motivações e emoções), como a contextos empresariais (organizacionais), sociais (comportamento humano em sociedade, que é também algo que me fascina) e clínicos (perturbações mentais). Tem uma grande área de abrangência e é… espectacular.
Não podia ter escolhido melhor curso para mim e devo dizer que, desde que comecei a estudar psicologia, a minha perspectiva e postura perante as coisas e pessoas mudou bastante. Ajudou-me imenso a entender certas coisas que dantes, para mim, eram um grande mistério.