PAI,
Estou na paragem à espera do autocarro e senti uma necessidade urgente de te dizer ao que sinto, pois todas as pessoas têem um limite e o meu está quase a rebentar, a fim de um ano ou mais de frustrações. estou a escrever numa folha quadriculada, pois estive a estudar Informática mas já não aguento mais, de não perceber nada, de me sentir a pessoa mais burra do mundo, de não entender, e, pior, de não querer entender, porque isso é mesmo o pior: quando não tenho o mínimo interesse em algo, não consigo dar o melhor de mim nem ir até ao fim, sentindo que é uma perda de tempo. defeito ou qualidade, sou assim.
acabei de ir à secretaria pedir o impresso para mudar de curso e vou começar por aqui para te explicar o fundamento desta carta: as minhas escolhas podm não ser as ideais para ti, compreendo, mais do que tu pensas, que te custa veres-me a ir por caminhos que não querias que eu fosse, mas também, compreende o meu lado: eu sou muito obstinada e gosto de fazer as coisas à minha maneira. não posso ser responsável pela felicidade ou agrado de ninguém excepto os meus, e isto não é ser egoísta; não posso guiar a minha vida conforme o q os outros querem e esperam de mim, e isso é-me realmente indiferente, em relação aos 'outros, outros'. porque em relação a ti, em relação à minha mãe, em relação a vocês, que são as pessoas mais importantes da minha vida, custa-me ser-vos uma desilusão. como cada um quer de mim coisas totalmente diferentes, diz-me, não é para eu ficar confusa? mudar para psicologia, curso que tudo e toda a gente no geral me diz que não presta, ir viver com a minha mãe, entre outras coisas - até os meus gostos mais pessoas, como música, literatura, até nisso tu dizes que eu tenho mau gosto! - desiludem-te e eu sou a primeira a ficar destroçada por saber disso! porque simplesmente não me aceitas como sou?
e não aguento mais esta falta de aceitação e o deitar abaixo constantemente. qualquer decisão que eu tome, qualquer escolha que eu faça, está sempre tudo mal, e apoio, nunca o vejo! podes dar-me apoio financeiro, tudo bem... e o resto? podes dar-me as semanadas para eu pagar a dança, mas como achas que me sinto ao dizeres que não presta? que era melhor que eu estivesse num ginásio a fazer 'exercício a sério' ou que praticasse ballet? o que achas q eu sinto quando dizes cobras e lagartos sobre eu mudar de curso? podes ter pago a mudança, e o resto? e eu ficar a sentir-me culpada? e eu ficar a sentir-me mal por saber que te desiludo? não espero que concordes com tudo o que eu faço, claro que não! mas esperava que, no fim de criticares cada passinho que eu dou, ao menos dissesses "mas se é isso q queres, tudo bem. fico feliz por ficares bem, por estares bem e feliz, independentemente do que faças para lá chegar".
não aguento mais também, a pressão a que sou sujeita constantemente: se gosto mais de ti ou da minha mãe? se prefiro estar contigo ou com ela? faço sempre tudo mal, sempre, e quando te confronto com isso, quando digo que CHEGA de me deitares abaixo, mais uma vez repetes "só quero que percebas que tens de começar a fazer as coisas bem" (!!!!). constantemente estou a ser disputada entre vocês, como se eu fosse um objecto, esqueces-te que sou uma pessoa e que tenho sentimentos! e que não gosto mais de nenhum do que de outro! parece que têem uma espécie de necessidade (os dois, não só tu) de mostrar quem é melhor, quem me educa melhor, com quem é que eu estou melhor! eu não tenho uma palavra a dizer sobre isso? estava melhor sabes como, sozinha! e em paz! sem me lembrarem todos os dias que tenho de fazer esta coisa horrível que é, escolher entre dois pais e tentar corresponder às expectativas dos dois, simultaneamente! é muita areia para o meu camião.
mais ainda: achas que eu tenho capacidade física e emocional para responder às exigências que me fazem constantemente? não te esqueças que a minha família não se resume a ti. tenho a minha mãe e a minha avó e, por pior que elas sejam, também são importantes, e muito, para mim! agora pensa... como achas que me sinto, ao ter de corresponder às expectativas dos TRÊS, sendo essas expectativas tão diferentes? como achas que é, eu sentir a PRESSÃO para ser a melhor filha, a melhor neta, a que tem de estar sempre preocupada com tudo e com todos... aquela que, se for pra casa da avó e sair um dia, já é péssima neta? que ouve bocas por tudo e por nada, que as outras é que são as netas boas, que eu é que sou a má? a que tem de ser pombo-correio, 'diz à tua mãe', 'diz ao teu pai', 'diz à tua avó'... EU NÃO TENHO CAPACIDADE FÍSICA NEM EMOCIONAL PARA RESPONDER A ISSO TUDO... neste momento, eu devia estar a aproveitar as minhas férias e a divertir-me com os meus amigos, como fazem as pessoas de 19 anos. não devia preocupar-me em que não fiques desiludido com as minhas escolhas; não devia estar a sentir-me mal por querer viver a minha vida; não devia explicar-te tanta e tanta vez que vou querer continuar a passar tempo contigo e a passar fins-de-semana cá em casa, vezes que nem ouves...
sim, tenho imensos defeitos, faço imensa coisa mal, sim! tomo imensas decisões 'erradas', sim! mas por outro lado, também sei 'arcar' com as consequências dessas mesmas acções, não responsabilizo mais ninguém! não adianta de nada dizeres 'não faças', eu vou fazer à mesma, porque eu quero aprender com os meus erros e não com os conselhos dos outros! isso é assim tão errado?
pai, eu tenho 19 anos, não 9. sei que me querias para sempre contigo, mas sabes que isso é impossível. felizmente ou infelizmente, não sou daquelas pessoas q quer viver com os pais para sempre. encara isto assim: eu, um dia, tinha de sair de casa. neste caso, é ir pra casa da minha mãe, é certo, mas não é por gostar mais dela nem a preferir a ela do que a ti, NÃO. é por outras razões que já te expliquei milhares de vezes mas que, para ti, ou não têem importância, ou entram a 100 e saem a 1000.
quantas mais vezes serão precisas dizer que, prefiro morar em Lisboa, por uma questão de ser mais viável e prático no dia-a-dia? que não, não gosto mais dela do que de ti, não prefiro estar com ela do que contigo, é-me indiferente. mas é importante para mim, estar lá, sempre vivi em Lisboa, habituei-me a isso, tenho tudo lá, faculdade, amigos, actividades extra-curriculares lá, sabes o que me é difícil viver neste fim de mundo? sabes o que é ter uma vida inteira num sítio, amigos, sítios, memórias, e viver noutro? sim, tu sabes melhor que ninguém disso, por isso esperava que me compreendesses um pouco mais! sim, tens razão quando dizes que há muita gente q faz isso, que não vive em Lisboa. mas eu digo-te, são pessoas que não têem alternativas. se eu tenho uma, porque não aproveitar? não estaria a ser estúpida se não o fizesse? durante estes anos todos, fui eu que andei para trás e para a frente por vos dar mais jeito! quando não dava jeito a um, eu ía para outro sítio, casas pra ficar nunca me faltaram! tive um ano (o pior da minha vida até agora) a viver em casa da minha avó, porque TU QUERIAS! não achas que agora tenho um bocado de direito a escolher onde quero viver, por me ser mais viável e prático, por, desta vez, me dar jeito a MIM?! não achas que tenho direito a fazê-lo, sem me sentir extremamente mal por o fazer?
e tento dizer, tento falar, tento explicar... mas não me ouves! estás tão concentrado naquilo que tu pensas que está bem, na maneira como achas que as coisas devem ser feitas, que esqueces-te que sim, eu oiço-te, mas a vida é minha, eu é que sei o que faço! e sim, podes dar-me o livre-arbítrio, mas de que me vale isso, se me fazes sentir culpada pelas minhas escolhas? não quero que páres de me aconselhar nem de dizer o que achas que é melhor para mim... eu não quero deixar de te ouvir com atenção! só quero que não me faças sentir mal, de não corresponder às tuas expectativas, por não fazer as coisas como tu queres! percebes?
descansa, nunca me vais perder. para ninguém, muito menos para a minha mãe (nem ela me perdeu para ti o tempo que vivi contigo). sou e sempre serei tua filha, e isso ninguém pode mudar, independentemente do que aconteça ou de com quem eu more ou das minhas escolhas e opções pessoais e tu vais sempre ser o pai perfeito (mesmo com todos os defeitos), o melhor do mundo e que eu respeito muito e pelo qual estou muito grata!
mas, por favor, deixa-me fazer as coisas por mim. deixa-me fazê-las sem me culpares. deixa-me tomar as minhas próprias decisões e aprender com elas, e crescer o muito que ainda me falta.
no fim, o que interessa, é que sou uma pessoa bem formada, e tu sabes disso, em grande parte devido a ti! no fim, sabes que eu sou feliz e que tudo o que eu faço é com esse fim, e que isso é tão mais importante do que tudo, do que tirar um bom curso, ter um bom emprego, um bom rendimento, uma boa casa, e casar-me e ficar para sempre casada e pôr os teus netos em aulas de ballet e música clássica, como queres.
tu sabes que eu te adoro e até podia estar no outro lado do mundo, que ía continuar a adorar. não é por ir para o ****** (sítio onde vou morar), que vou deixar de te ver e estar contigo. na verdade, vou estar sempre contigo, mesmo que não seja fisicamente!
ADORO-TE, AMO-TE, TUDO, NADA VAI MUDAR ISSO.
Cláudia.
escrevi esta carta, em papel, já há umas duas semanas, mas só mandei isto por mail ao meu pai, depois de ter um break-down, esta semana... eu tinha uma consulta médica marcada para 5ª feira, para ela passar o atestado em como estou apta para conduzir, para a carta de condução, lol. lembrei disso ao meu pai e ele começou - típico dele, e que eu detesto - com 'second guessings' (não me lembro da expressão em português), género 'não sei, sabes... não sei não...'.. EU ODEIO quando fazem isto... prometem, juram, diz que sim que faz e que acontece e nos momentos decisivos é o que se vê... pouco depois o telefone tocou e era a minha avó... começou a falar e não dizia coisa com coisa, e depois deve ter adormecido, porque deixei de a ouvir. fartei-me de chamar, ela acordou, disse que 'já estava aqui a dormir' e depois adormeceu outra vez... eu fiquei bem preocupada e o meu pai começa logo 'liga outra vez, vá...' mas a insistir bué mesmo, com um tom de "vá, é tua obrigação, que raio de neta és tu se não ligares". eu tive um break-down e disse "porque é que não ligas tu? porque é que não liga outra pessoa qualquer pra saber o que se passa? porque é que eu sou a única pessoa desta família a fazer tudo, e no entanto, sempre a que faz tudo mal?" . claro que isto não era razão para a fita que eu fiz, mas foi uma espécie de gota de água.
fui para a cama às 10h30 da noite, chorei e chorei e chorei até cerca da meia-noite, chorei... de revolta, de raiva, de tristeza, de medo, de agonia e de preocupação com a minha avó, de culpa, de saudades, chorei de absolutamente tudo. achava que uma noite bem dormida resolvia tudo e achava que no dia seguinte ía estar tudo bem, mas às 14h ainda não queria sair da cama e ainda me apetecia chorar mais. o meu pai foi chatear-me, 'filhinha, o que é que tens?' a repetir vezes sem conta, só me apetecia dar-lhe um murro, porque só é assim carinhoso quando me vê na merda, porque de resto só sabe criticar e deitar abaixo e ainda tem a lata de dizer que é porque "eu tenho de aprender a fazer as coisas bem", que é como quem diz "fazes tudo mal", e pior, nem fazia a mínima ideia do "porque é que eu estava assim". é o mesmo q dar uma estalada a perguntar "porque é que tens a cara vermelha?"! ele insistiu tanto que eu acabei por falar, a chorar baba e ranho e atropelar-me toda, lol...
acabámos por ir à tal consulta e, não sei como, a conversa foi parar a isto... foi parar à questão da 'liberdade que os pais dão aos filhos' por causa da carta de condução, E PELA PRIMEIRA VEZ EM MILHÕES DE ANOS,. lool, alguém me entendeu! ALGUÉM ME ENTENDEU! nunca ninguém na minha família falou comigo com calma nem a perguntar "diz, conta, fala,que eu oiço, o que se passa"... NÃO... sempre que eu tenho um esgotamento nervoso (e são TODOS por causa desta gente a que eu tive o azar de calhar minha família), chamam-se uns aos outros, como se estivessem a chamar a polícia para me levar para o Hospício, quantas vezes já não aconteceu isso em casa da minha avó, eu a passar-me e ela logo a ligar para o meu pai "a sua filha está maluca!" e o meu pai a vir e a falar comigo a dizer que não percebe porque é que eu estou assim depois da merda toda que disse e fez... pode ser um pai maravilhoso em quase tudo, mas ainda assim consegue magoar-me muito às vezes... e ninguém, NINGUÉM NESTA LOUCURA DE PESSOAS COM O MESMO SANGUE, A QUE CHAMAM DE FAMÍLIA, pára para pensar porque é que eu estou assim e que não fico assim só porque me apetece...
a médica, que não me conhecia sem ser em duas ou três consultas que tive com ela, percebeu logo! eu disse "sinto-me culpada" e bastaram estas duas palavrinhas. o meu pai, para variar e dar uma de 'eu sou um óptimo pai' começa a justificar-se e eu a tentar (mas só tentar, claro) FALAR E SER OUVIDA, e a médica diz "oiça, oiça! a sua filha está a tentar falar... OIÇA-A!" . adorei. pra quem nunca me ouve... depois ela deu um sermão género-psicóloga, deu uma quota da razão ao meu pai e outra a mim - que é algo que nunca ninguém me dá. não, eu sou a louca da família, nunca ninguém me irrita até eu me passar, nunca ninguém diz nem faz nada.
mas isto tudo é uma longa, longa, loooonga história... eis o que se passa, muito resumidamente (para quem não está a par): os meus pais são divorciados desde que eu tenho 3 anos, isso nunca foi problema nem trauma, porque nem me lembro de os ter juntos. o que é muito chato e sempre foi, são as disputas e rivalidades entre eles, por minha causa. enquanto eu era pequena e não percebia nada, era tudo na boa. mas eles continuam. mesmo já tendo eu idade para decidir e escolher em consciência onde quero estar, eles continuam a fazer-me sentir culpada. se estou no meu pai, a minha mãe faz-me sentir mal, e o mesmo vice-versa, ou seja, é um sentimento constante, esteja onde estiver, é uma exigência constante, como se, implicitamente, disessem "escolhe entre um e outro" quando eu não devo nem quero nem vou "escolher" nenhum. não se pode agradar a gregos e troianos e eu, ao mesmo tempo que quero agradá-los, sinto que não devo ceder em tudo! a culpa é um dos piores sentimentos que alguém pode experienciar. cresci no meio do caos e da instabilidade, sempre a saltitar de casa em casa, como se já não bastassem essas duas, ainda uma terceira: a da minha avó. era tipo repositório quando eles não podiam ficar comigo. sempre detestei isso...
este último ano, vivi em 3 casas diferentes, mudei de casa 2 vezes e caminho para uma 3ª: minha mãe, até ela resolver mudar de casa, e fazer obras na 'nova' que supostamente só íam durar uns meses, e
entretanto fiquei em casa da minha avó, e essas obras alongaram-se por mais de um ano (!) e eu sempre em stand-by à espera, para variar. quando as coisas começaram a correr mesmo muito mal na minha avó,
fui viver com o meu pai, sabendo ele que era temporário e que, quando as obras estivessem concluídas, eu iria viver para lá, tal como era o plano inicial.
um ano e meio estou eu à espera, e FINALMENTE, as obras estão concluídas. e o que é que acontece? o meu pai está a reagir muito mal. mesmo muito mal. é que faz-me sentir culpada por querer ir morar para Lisboa. nada do que eu diga adianta para ele perceber que a mim é-me indiferente morar com um ou com outro... o que me importa é morar em Lisboa, apanhar um autocarro e em 10 minutos estar no centro! e não demorar 2 horas para ir daqui de casa do meu pai a Lisboa e vive-versa (tipo um dia que saí às 16h30 e cheguei lá às 18h15!). mas não percebe! não percebe que não gosto mais da minha mãe do que dele! chateia-se, amua, só faltava cruzar os braços de chateado e chorar e fazer birra! chama-me a mim de criancinha, mas quem está a ter uma atitude infantil, é ele! em vez de facilitar algo que ele já sabia que ía acontecer, não... dificulta! manda-me à cara coisas como "fiz obras na cozinha e na casa-de-banho porque estavas a viver aqui e agora vais-te embora?" - diz que não o diz para eu me sentir na obrigação de retribuir, e eu até acredito que não seja com essa intenção... mas como é que eu me hei-de sentir quando ele diz isto? e, do outro lado, vem a minha mãe "estive a fazer obras na casa inteira por tua casa e agora vais ficar aí?".
sim, a minha mãe e a minha avó, e a minha família materna no geral são assim: fazem as coisas para poderem mandar à cara, mais tarde (o meu pai já não é tanto assim); AINDA HOJE, eu oiço da minha avó "pois, porque quando tinhas 3 anos e os teus pais n podiam ficar cntg, um dia vim eu de propósito do Alentejo para Lisboa para ficar contigo", e claro, é como se dissesse "eu fiz X, Y e X por ti, agora fazes o mesmo por ti, é a tua obrigação". e, claro, eu snto-me nessa obrigação de retribuição. mas não é UMA obrigação de retribuição. são TRÊS OBRIGAÇÕES DE RETRIBUIÇÃO. SE EU ME DIVIDISSE EM TRÊS! é nestas alturas que eu queria ter irmãos. ou então, uma família minimamente normal e não desequilibrada, que não fosse de tão baixo nível (e nisto falo da minha família materna, porque da paterna não conheço ninguém sem ser o meu pai, são todos Moçambicanos) ao ponto de pôr as coisas nestes termos: "eu fiz isto por ti. agora ficas-me a dever uma,ok?".. q raio de mentalidade é essa? fazer as coisas para ficar à espera de uma troca?
depois, como é que eu hei-de acreditar em família e no valor da família e blá blá blá? o meu pai fica escandalizado, quando eu digo que não quero casar nem ter filhos, quero ser independente, tanto financeira como emocionalmente, viver sozinha num apartamento pequeno, ter sucesso na minha carreira e viver bem SOZINHA, quanto muito ter namorado mas casar e viver junto e etc NUNCA, e não, não quero constituir família. mas óbvio... como é que eu hei-de me querer casar e ter filhos, alguma vez na vida, se cresci com este modelo COMPLETAMENTE DESEQUILIBRADO? cheio de padrastos bêbados que me batiam, a mim e à minha mãe, com uma avó insuportável, com um pai crítico e exigente ao limite, com uma mãe ausente (e isto é só do que eu me lembro)? admira-me a mim como é que eu ainda tenho alguma sanidade mental. e também me admira como há pessoas que não gostam de viver sozinhas, colegas que não são de Lisboa mas que moram em Lisboa e dizem que detestam morar sozinhos, porque têem saudades da família... o que eu não dava pra trocar de lugar com eles! às vezes até penso "quem me dera ter nascido no Alentejo para poder vir morar SOZINHA para Lisboa quando entrasse para a faculdade". mas, claro, essas pessoas têem famílias minimamente normais...
em Agosto, vou começar a trabalhar (arranjei uma coisa para um mês, felizmente,lol), e é-me mais fácil ir até lá estando em Lisboa do que aqui. entro às 9h e para estar lá a essa hora, daqui, tinha de me levantar às 6h. isso não dá. por isso é que agora em Julho eu estou a querer mudar-me e organizar-me já. mas já desisti. estou a ver que, ele vai continuar a fazer-me sentir mal... não há volta a dar. eles vão continuar a não ouvir, a não ligar, a não se importarem com o que eu sinto ou quero. eles vão continuar nesta guerra, que já dura há no mínimo 16 anos e, tenho a sensação que, se saísse de cena agora, nem íam dar por nada. Às vezes, muitas vezes, a maioria das vezes, é o que me apetece fazer. e eu gosto tanto deles! claro, as pessoas de quem mais gostamos, são as que nos magoam mais...
Não quero vir para o blog fazer-me de vítima nem dizer que os meus problemas são os piores do mundo. Sei que não são, e ainda bem, espero que não! Mas eu sempre tive problemas familiares e isto sempre me chateou, SEMPRE, mais do que qualquer outra coisa. não me lembro de um mês, uma semana, um dia, uma hora, em que assim não fosse e penso... PORQUE É QUE EU NASCI AQUI... são pessoas falsas, manipuladoras, desequilibradas, mesquinhas, que valem zero... o meu pai é diferente, é graças a ele que não me tornei assim! falo mais da minha família materna (daí eu não querer ir viver com a minha mãe por ser com ela, até porque ela raramente está em casa, mas sim querer ir viver para lá porque me dá mais jeito em termos logísticos).
Muaah @
Ps. entretanto, a minha avó ficou bem. quer dizer. bem bem já não está, já não vai pra nova. esqueceu-se que tinha adormecido ao telefone. esqueceu-se que eu tinha combinado ir jantar a casa dela no Sábado (lá está, o meu sentimento de obrigação, em estar lá), e ela nunca se esquece de nada. Ela tem energia até dizer chega, não se cala um minuto (tenho a quem sair,lol), desenrasca-se sozinha, tem 79 anos, vive sozinha e faz absolutamente tudo sozinha e impecavelmente; de vez em quando dá-lhe para ser querida, mas normalmente é uma víbora insuportável. e mesmo assim eu morro de preocupação, porque sei que o dia M está a chegar. naquele dia do break-down chorei sobretudo de terror que isso acontecesse nessa noite, fiquei duas horas em agonia a sofrer por antecipação. fiquei a ouvir o meu pai a ligar-lhe e ela a não atender, e nós sem chave de casa dela. finalmente, atendeu e foi um alívio. mas foi um alívio temporário porque ela está diferente, ela nunca se esquece de nada e esqueceu-se que ía lá jantar no Sábado. estou com MEDO. apesar de ela ser MÁ, é a minha avó, a única que eu tenho, e não a quero perder, mas sinto que esse dia está para vir e já esteve mais longe, e eu nada posso fazer.