Eu tive uma sorte do caraças... andei à procura de emprego o Verão inteiro, porque para variar não tenho um tusto nem dinheiro para mandar cantar um ceguinho, e sem dinheiro também não iria ter férias decentes, e para isso mais valia fazer qualquer coisa de útil (ficar o dia todo a vegetar na net e a ver tv, ou até mesmo ir à praia todos os dias, não é o meu conceito de férias).
primeiro chamaram-me para telemarketing, esquece lá isso, não estou assim tão desesperada. depois chamaram-me para uma loja de roupa, mas o meu pai disse-me que podia perder a bolsa de estudos com isso. Depois, surgiu a grande oportunidade: a bela da Cunha.
numa empresa longínqua e remota, no fim do mundo (como o meu pai costuma dizer: "se o mundo tem um cu, o cu é aqui"), todos os anos em Agosto abre uma vaga, de substituição, e todos os anos tem de ir para lá alguém. quem foi para lá o ano passado foi uma amiga minha que este ano não pôde ir. Sabendo que eu estava à procura, 'recomendou-me'. Bom, não é nada que seja de grande responsabilidade nem é preciso ser-se muito inteligente para desempenhar a tarefa em questão, ao ponto de se 'recomendar' alguém... mas digamos que sim, essa minha amiga foi uma rampa de entrada. Sem entrevista, sem nada, era como se já estivesse aceite, ficando à experiência durante estes 4 dias. E sim, claro que consegui... aquilo é facílimo. Claro que continuaria a existir o problema da bolsa; eu perguntei à empresa com quem tenho contrato se poderia contornar essa situação e não fazer os descontos para a Seg. Social, mas claro que não podia ser, tinha tudo de seguir os trâmites legais; o meu pai disse que 'se for só um mês talvez não faça assim tão mal' e eu resolvi arriscar...
Assim sendo, diz que sou estafeta interno. O meu primeiro emprego: estafeta interno. Consiste em ir buscar correio da empresa à recepção, separá-lo (abrir algum, nomeadamente facturas, recibos, encomendas, etc), carimbá-lo e distribuí-lo pelas diferentes pessoas, pelos diferentes departamentos, pelos diferentes escritórios. Basicamente, tratar da correspondência. Essa é a principal tarefa, depois há outras, como: transportar correio interno (de vez em quando fazer uma ronda geral para ver se alguém tem correio para alguém dentro da própria empresa), verificar se os fax's, as impressoras e as fotocopiadoras têem papel, se as salas de reuniões têem sempre águas e copos, e pouco mais. ah, e falar com os seguranças, claro... mas isso é mais adiante.
Bom, não é o meu sonho de emprego, mas para começar não está mesmo nada mau, mesmo nadinha, visto que: é bem melhor que um call-center (o meu pesadelo)... é a full-time, não vou ganhar mal, é acessível e 'fácil' e até giro, eu acho giro, pq adoro mexer em papel e isto é tudo sobre mexer em papel e buscar e trazer e entregar e distribuir papel... lol. e sempre me entretenho! faço bastante exercício físico, dado ter de percorrer a empresa de uma ponta à outra moooontes de vezes ao dia. sem dar por isso, ainda ando uns bons kilómetros... é cansativo, porque é o meu primeiro emprego e é logo a full-time, e ainda me estou a habituar a este ritmo...
apesar de, e devo salientar, agora em Agosto ser uma SECA. em Agosto, está tudo de férias, não se vê ninguém... agora nestes últimos dias de Julho ainda estava alguma gente, apesar de mais de metade estar de férias... mas na 6ª à tarde, dia 31, quando toda a gente saiu mais cedo para férias, é que eu tive um pequene vislumbre do que vai ser aquela firma agora em Agosto: VAZIA, VAZIA, VAZIA. departamentos sem ninguém, os que tinham era no máximo duas pessoas. até se ouvia o som dos computadores e fotocopiadores ligadas, tal era a ausência de ruído humano...
há correio às 9h30 e outro 12h30, mas é correio que eu despacho em meia-hora ou 40 minutos, porque para além de ser pouquíssimo, eu sou rápida.. ou seja, depois do almoço, a partir mais ou menos das 13h/13h30, é quando acaba o meu dia: ABSOLUTAMENTE NADA PARA FAZER. porque nem as águas nem o papel se acabam quando estão apenas 10 pessoas a trabalhar na empresa inteira... porque correio é muito pouco e o último vem antes do almoço, enfim, porque... não há trabalho. eu às vezes até penso, que seria mais rentável para eles, porem uma pessoa em Agosto mas só até às 13h, tipo part-time. porque estão a pagar 8 horas, das quais 4h não tenho nada que fazer e são inutilizadas. mas bom pra mim! quer dizer, ganho sem fazer quase nada... mas ao mm tempo, cansa mais não fazer nada do que ter muito pra fazer. eu pelo menos prefiro estar ocupada do que ficar a ver as horas a passar por mim! e nem sequer tenho computador para jogar solitário! LOL
tive estes 4 dias, de 3ª a 6ª de 'formação' juntamente com a pessoa que vou substituir, e que entrou de férias na 6ª... e já vou preparada para a próxima semana: levar livro bem grande para ler, ou assim... epa, porque realmente, das 13h esperar até às 17h pra sair, com pouco, muito pouco q fazer... é suicídio.
bom, claro que também temos outras pessoas para falar. os senhores doutores não, claro (os que não estão de férias, estão a trabalhar, ou a fingir). mas, por exemplo, os seguranças, ou o rapaz que está no armazém, sempre está mais próximo da minha idade do que a maioria das pessoas (eu sou a pessoa mais nova dentro da empresa,LOL). já fiz ali umas amizades, preciso de ir conversando, senão dou em louca. assim, das 4 ou 5h diárias em que tenho que estar ali sem nada que fazer, sempre passo 1h ou 2h na conversa... até me fartar... eu até podia, na boinha, encostar-me e dormir uma sesta, ninguém dava por isso. metia o despertador de meia em meia-hora para ver como estava a situação, o tempo sempre passava mais rápido, vou passar a fazer isso agora quando estiver sozinha, sim porque a senhora que eu vou substituir não gostava nada da ideia (apesar de eu a ter apanhado com os olhinhos fechados umas quantas vezes, LOL). ela punha-se na conversa com toda a gente, tipo aquelas velhas coscuvilheiras que param a cada metro que vêem alguém e ficam a falar 45minutos (sem ofensa, eu até gosto bastante dela, senhora muito simpática).. às vezes esse 'dedinho de conversa' era tão longo, que eu quase que adormecia em pé, tal era o cansaço e o tédio. mas enfim.
ah, esqueci-me de referir que para além de estafeta interna, de vez em quando também desempenho funções de educadora de infância... e devia receber mais por isso! LOL. é que já se sabe, agora em fins de Julho e Agosto os ATLs e Infantários também vão de férias, e para onde vão as criancinhas? para a empresa com os pais. e onde ficam as criancinhas enquanto os pais trabalham (ou fingem)? claro, comigo. quer dizer, esta semana ficaram com a Dona M. (senhora q vou substituir), ela é que tem paciencia para as criancinhas... eu já não tenho muita... chamem-me de insensível, mas há umas que são mesmo chatinhas; então naquela faixa 4-10 anos até entrarem na puberdade, são mesmo impossiveís de aturar. mas enfim, pode ser que em Agosto também não apareça lá nenhuma.
quanto ao ambiente... bom, gostei. é um ambiente bastante informal. claro que os senhores andam todos de fato e gravata e as senhoras todas bem vestidas e com saltos, o que à primeira vista mete respeito, sobretudo quando atrás do nome tem o "Doutor, ou Dr"... mas quando começam a falar connosco, são pessoas 'normais'. não estou a dizer que as pessoas que trabalham nas empresas não são normais.. estou é a dizer que metem respeito xD gosto do facto de me tratarem por tu e de, de uma maneira geral, serem simpáticos e me agradecerem quando eu digo "posso? chegou esta carta para si/para a Doutora". mas há excepções, por exemplo, duas pessoas que ficaram marcadas, que eu até já decorei o nome e o departamento mas pela negativa: uma que é mandona, tem a mania que tem empregados... fala de maneira demasiado autoritária... e outro que nunca agradece... eu peço para entrar, entrego, saio, e forma calma e educada, e ele nada, nem olhar, deve achar que sou um robot... detesto gente assim; sei que é a minha obrigação, mas porra, custa alguma coisa um 'obrigada'? é uma questão de educação.. gente antipática... iiiii... dispenso. mas sim, de uma maneira geral... tem um ambiente muito familiar.. as pessoas falam muito entre si, e são bastante calorosas... (falam mais do que trabalham, mas isso já é outra questão). deixam-me muito à vontade... no primeiro dia, estava cheia de medo, no 2º quase que já os tratava por tu.. inclusivé, num momento de maior informalidade, sem querer, tratei uma rapariga por tu, e disse 'escreve' em vez de 'escreva'...epa, ela deve ser recém-licenciada, não lhe dou mais de 24 anos... saiu-me... é quase da minha idade... mas ela n disse nada... e sem querer disse 'tens' em vez de 'tenha' a um senhor já nos seus 30 e poucos, de fato e gravata :O fiquei chocada, quando me apercebi que tinha deslizado, mas acho que ele nem reparou, porque éramos 4 pessoas à conversa. mas pronto.. tenho sempre imensa dificuldade em saber como hei-de tratar as pessoas... "o doutor", "a doutora", sem saber sequer se são doutorados ou não? "você", a pior palavra da língua portuguesa?? em inglês é que é... YOU para tudo e está a andar, sem ser confundido com falta de educação.. já no português... temos demasiadas regras e convenções e complicações e eu fico toda confusa... afinal como trato? apesar de ser um ambiente informal, não vou tratar pessoas hierarquicamente superiores a mim por 'tu', apesar de fazer questão que me tratem a mim... (afinal tenho só 19 anos! no dia em que me tratarem por você, vou considerar que me estão a chamar de velha, LOL).
uma coisa que noto imenso é o ritmo e o cansaço das pessoas. estão sempre alegres mas ao mesmo tempo, oiço todo o mundo a queixar-se de como não têem tempo para a família,para os filhos... a queixarem-se do dinheiro que gastam em amas e em infantários e em actividades extracurriculares para manter os filhos ocupados... e realmente, deve ser verdade: 8 HORAS NUMA EMPRESA É MUITO... é demasiado... eu, que tenho um trabalhinho pouco exigente, depois de 8 horas lá enfiada fico estoirada e sem energia para mais nada.. agora imagino quem tem filhos para ir buscar e casa pra cuidar, e transito para enfrentar e perder mais umas horas e jantar pra fazer e bla bla... e depois, reparo que, na maior parte das vezes, a maior parte do tempo, estão na conversa ou a beber café... de 8 horas, trabalham umas 5h. ou seja, acho que o horário de trabalho deveria ser reduzido para menos tempo, de maneira a q as pessoas tivessem mais disponibilidade para as outras áreas da sua vida... e com essa disponibilidade, nomeadamente para descansarem e dormirem bem, estariam sujeitos a menos stress e assim essas 5 horas que trabalhariam seriam muito mais produtivas do que as 8 horas sempre a olhar para o relógio... isto dito por uma pessoa que vai mudar do curso de Gestão de Recursos Humanos para Psicologia xD mas tem a ver... tem tudo a ver! é só olhar para os espanhóis... trabalham menos, têem inclusivé uma siesta, e são muito mais desenvolvidos do que nós. é o que eu digo: em vez de estarem na casinha do café (um espaço que temos com máquinas de café e chá) a fazerem conversa de circunstância e a perguntarem uns aos outros 'quando é que tu vais de férias? a sério? eu vou agora, finalmente!' a maior parte do tempo, investiam esse tempo a despachar o trabalho, e depois saíam. a produtividade devia ser mais valorizada do que o nº de horas que se trabalha, do que o típico picar o ponto. mas enfim.
pronto... que mais dizer? acho que já está o essencial. resume-se a:
por enquanto é isto, amanhã 2ª feira começo novamente em força... às 6h30 da matina já a pé, para chegar a horas mas ter tempo de fazer as coisas com calma... agora vou estar no activo até dia 4 de Setembro! e com o dinheiro q receber, vou investir em coisas que quero/preciso, mas os meus pais não financiam: roupa, aulas de dança e umas coisinhas que quero para o meu quarto novo. e, claro, ver se dá para subsistir razoavelmente bem durante alguns meses do ano lectivo (refeições, transportes, telemóvel, saídas, festas e eventos), já que se eu for a viver das esmolas dos meus pais, bem posso ir para o Metro pedir...
Muaah @